Expressões como “fingir demência” ou “está cego?” endossam o preconceito contra pessoas com deficiência. Confira sete frases capacitistas. P...
Expressões como “fingir demência” ou “está cego?” endossam o preconceito contra pessoas com deficiência. Confira sete frases capacitistas.
Por Mariana Oliveira
A Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU/2007) foi criada para proteger pessoas com “qualquer impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial”. O texto destaca a urgência da sociedade para reduzir barreiras que obstruem e limitam a participação cidadã efetiva de parte significativa da população.
Neste processo, evitar antigos vícios de linguagem também tem um papel importante. Muitas expressões utilizadas no dia a dia são pejorativas e discriminatórias, ou seja, capacitistas. Confira algumas delas para retirar de vez do seu vocabulário.
“Portador de deficiência” ou “portador de necessidades especiais”
Segundo o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), “deficiência não se porta, ela é uma condição existencial”, portanto, o correto a se dizer é Pessoa Com Deficiência (PcD).
O termo PcD foi definido na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito das Pessoas com Deficiência, em 2006, na sede das Nações Unidas em Nova Iorque (EUA). No Brasil, o texto foi aprovado e é sustentado pelo Decreto nº 6.949/2009.
“Um parafuso a menos” ou “falta de parafuso”
Durante uma reunião sobre prevenção da violência escolar, após o ataque ocorrido na Escola Estadual Thomazia Montoro, na zona oeste de São Paulo, o presidente Lula (PT) disse que pessoas com transtornos mentais têm “problema de desequilíbrio de parafuso”.
“Sempre ouvi dizer que a Organização Mundial da Saúde sempre afirmou que a humanidade deve ter mais ou menos 15% de pessoas com deficiência mental. Se esse número for verdadeiro, o Brasil, com 220 milhões de habitantes, tem quase 30 milhões de pessoas com ‘problema de desequilíbrio de parafuso”, disse o presidente.
Segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada oito pessoas do mundo tem algum transtorno mental, definidos como distúrbios intelectuais, emocionais ou comportamentais.
“Fazer de doido” ou “fingir demência”
É comum ouvir essas expressões quando alguém quer se fingir de desentendido em algum assunto ou conversa. A demência é considerada uma síndrome causada por doenças e lesões que afetam o cérebro, resultando em prejuízo da memória, insônia, perda da inibição social, alterações de personalidade e até perda de habilidades simples, como se vestir. Um exemplo de demência é a doença de Alzheimer.
O Observatório Global de Demência da OMS, divulgado em 2021, estimou que mais de 55 milhões de pessoas vivem com demência no mundo. O relatório também mostrou que é necessário alto investimento financeiro para manter os cuidados especializados, incluindo atenção primária à saúde, cuidados de longo prazo e paliativos. Porém, a assistência é mais acessível em países de alta renda.
“Isso é coisa de retardado ou de doente mental”
A expressão se refere a pessoas com deficiência intelectual, quando há um atraso no desenvolvimento, dificuldades de interação, aprendizado e realização de tarefas rotineiras.
“Dar uma de João sem braço” ou “não tenho braço para isso”
A frase normalmente é aplicada para se referir a quem foge de suas responsabilidades e faz alusão a pessoas com deficiência física. A deficiência física é uma alteração completa ou parcial do corpo humano que acarreta o comprometimento da mobilidade e da coordenação geral. Entre as deficiências físicas mais comuns, listadas pela Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde (BVS MS), estão a amputação, paraplegia (perda total das funções motoras), tetraplegia (perda total das funções motoras dos membros superiores e inferiores), entre outras.
“Está cego ou surdo?”
A deficiência visual é a perda total ou parcial da visão. Na deficiência auditiva, a pessoa também apresenta perda parcial ou total da audição. Conforme o último Censo, a deficiência visual acomete 3,4% da população brasileira, o número mais alto em comparação com as demais habilidades identificadas na pesquisa.
“Exemplo de superação”
O Manual de Comunicação da Secretaria de Comunicação Social (SECOM) explica que expressões preconceituosas ferem “o valor fundamental da Constituição”. Portanto, menções a situações de deficiências, incapacidades ou quadros patológicos devem ser feitas em contexto e sem tom de piedade”.
Lelê Martins, a Blogueira PcD, cria conteúdo humorístico de modo descomplicado, explicando termos, expressões e atitudes capacitistas. Ela conta que a problemática da expressão é o fato de colocar sempre a deficiência em primeiro plano, antes do próprio indivíduo. “O problema não está na deficiência. O problema está na falta de acessibilidade e de recursos para que pessoas com deficiência vivam”, explica.
Com informações de Nós
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