Paula Starke* Seis décadas atrás, Paulo Freire, um dos teóricos mais citados na história da pedagogia, deu nome a um método de alfabetização...
Seis décadas atrás, Paulo Freire, um dos teóricos mais citados na história da pedagogia, deu nome a um método de alfabetização que ficou conhecido mundialmente por levar em consideração as experiências de vida do aluno, levando a realidade cotidiana de trabalhadores até a sala de aula. Ao defender uma educação baseada no diálogo, o educador era contra a tradicional ideia do professor detentor de conhecimento. Declarava a necessidade de se partir daquilo que o aluno já conhecia e já se interessava.
Entretanto, desde que o educador escreveu "Pedagogia do Oprimido", na década de 1960, o universo dos alunos a ser considerado por seus professores se transformou por completo. Com a globalização e o aumento do consumo, o volume de informações aumentou exponencialmente. O crescente uso da tecnologia, que tanto nos auxilia, também é responsável por criar distrações que diminuem o tempo de concentração dos alunos e disponibilizam informações de fontes duvidosas a um clique de distância.
Considerando os desafios crescentes, a busca por métodos de ensino que promovam um processo de aprendizagem eficiente tem sido incessante para nós, educadores do século XXI. Em fevereiro de 2020, entretanto, estes desafios que já enfrentávamos em sala de aula estavam prestes a se tornar ainda mais complexos.
Com a chegada da pandemia e a necessidade do isolamento, nossas aulas, que passaram a ser remotas, nos obrigaram a contornar obstáculos como dificuldades técnicas, problemas na conexão e falta de motivação e engajamento dos alunos que não estavam acostumados à nova rotina. Todo o conhecimento que nós professores tínhamos, de repente, parecia insuficiente diante de tantas barreiras virtuais. Embora saibamos que muitos foram os contextos e as realidades escolares durante este período, tornou-se claro que não existe milagre ou solução imediata quando nos deparamos com as dificuldades da realidade escolar, seja ela pública ou privada.
Diante da necessidade de um método de ensino com o qual os alunos fossem capazes de aprender participando ativamente e, portanto, interessando-se pelo conteúdo, a aplicação de PBL, ou Project Based Learning, foi uma das soluções que me ancoraram durante um período turbulento de incertezas. PBL é o método que traz uma pergunta significativa a ser explorada - podendo se tratar de um problema do mundo real ou até mesmo uma provocação ou desafio a ser desenvolvido. Este método possibilitou mais interação e trabalho em conjunto com as minhas turmas daquele período - e continua possibilitando hoje, nas aulas presenciais.
O método remonta aos conceitos do filósofo e educador americano John Dewey, que defendia a aprendizagem por meio de uma investigação ativa. Com questões levantadas pelos próprios alunos, o trabalho em equipe permite que novos conteúdos sejam aprendidos e novas habilidades sejam desenvolvidas. Não estamos falando, necessariamente, de um projeto focado na criação de algo físico, palpável - pode ser que desafios intelectuais, a própria pesquisa, leitura e escrita sejam o resultado desse aprendizado.
Além disso, uma das possibilidades trazidas pelo método é a de que o professor não seja mais o centro das atenções, agindo mais como facilitador do que o dono do conhecimento - sim, como Freire mencionou. Mas, não se engane, o professor ainda terá um papel essencial estruturando e direcionando recursos. A ideia, porém, é a de que deixemos nossos alunos cada vez mais livres e independentes na hora de aprender o tema que eles próprios escolheram.
É evidente que trago aqui, brevemente, o relato de uma experiência pessoal que obteve bons resultados e, para outros professores, isso pode se dar de outra maneira.Tal qual nossos alunos, arriscamos, erramos e aprendemos diariamente. Todavia, como afirmou John Dewey, a educação é, afinal, um processo ativo e construtivo - e esta pode ser uma alternativa eficiente para se construir novas práticas de conhecimento em sala de aula, hoje.
*Paula Starke é mestre em Estudos da Linguagem e professora de Língua Inglesa do Colégio Positivo - Master.
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