Lançado este mês, o rastreador global de metano da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) mostra um número crescente de países de...
Lançado este mês, o rastreador global de metano da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) mostra um número crescente de países desenhando planos de ação para combater as emissões de metano – embora elas sigam em alta.
No ano passado, a indústria de energia foi responsável por 135 milhões de toneladas do gás de efeito estufa liberadas na atmosfera em 2022, apenas um pouco abaixo dos recordes registrados em 2019.
Hoje, o segmento responde por cerca de 40% do metano atribuível à atividade humana, perdendo apenas para a agricultura.
Nem mesmo a combinação de altos preços de energia, preocupações com a segurança do abastecimento e incerteza econômica foram suficientes para melhorar o cenário no ano passado.
Alcançar cortes significativos depende da indústria, mas também de políticas de Estado, defende a agência.
Desde 2021, cerca de 150 países aderiram a um acordo internacional para reduzir coletivamente as emissões de metano em 30% em relação aos níveis de 2020 até 2030.
E, apesar de 30% estar bem abaixo do ideal, pelo menos 50 países desenvolveram planos nacionais de metano ou planejam fazê-lo até a COP28, em novembro, incluindo Brasil, Vietnã, Canadá, Finlândia, Suécia, Noruega, EUA e a UE.
O metano é responsável por cerca de 30% do aumento das temperaturas globais desde a Revolução Industrial. Ele se dissipa mais rápido que o dióxido de carbono, mas é um gás de efeito estufa muito mais poderoso no curto prazo.
Somente em 2022, mais de 500 eventos superemissores foram detectados por satélites de operações de petróleo e gás e outros 100 foram vistos em minas de carvão.
Como os países estão agindo? Entre os que já colocaram sua estratégia na mesa, o Canadá planeja combinar regulamentações e incentivos aos setores de combustíveis fósseis, resíduos e agricultura para alcançar 35% de redução geral até 2030.
Nos Estados Unidos, a Lei de Redução da Inflação estabelece uma taxa sobre o metano emitido por empresas de petróleo e gás, além de disponibilizar US$ 1,55 bilhão em assistência financeira e técnica para esse setor.
Ambos os países, além da União Europeia, devem apresentar novas propostas regulatórias em 2023.
Vale dizer: nesta segunda (27/2) o enviado especial para o clima dos Estados Unidos, John Kerry, encontrou o ministro da Agricultura brasileiro, Carlos Fávaro, para discutir agro de baixo carbono e redução das emissões de metano na pecuária esteve em pauta.
Vizinha do Brasil, a Colômbia tornou-se o primeiro país sul-americano a regulamentar as emissões de metano de seu setor de petróleo e gás, incluindo padrões de equipamentos, requisitos para mitigação e limites para queima de gás, além de metodologias para quantificar a queima, ventilação e emissões fugitivas.
Na Ásia, o Vietnã traçou metas específicas de redução em 2025 e 2030 para emissões de extração de petróleo e gás, mineração de carvão e consumo de combustíveis fósseis, visando o corte de 30% no final da década.
Enquanto na África, Angola reduziu os volumes de queima em cerca de 60% entre 2016 e 2021, após o seu endosso à iniciativa Zero Routine Flaring do Banco Mundial.
E a Nigéria emitiu diretrizes para a gestão de emissões no upstream para apoiar a eliminação da queima de gás de rotina até 2030 e uma redução de 60% nas emissões fugitivas até 2031.
O Norte africano concentra também algumas das maiores oportunidades de redução da queima identificadas pela IEA.
“Cerca de 10 bcm de gás natural foram queimados em ativos upstream na Argélia e no Egito. A maioria dos flares opera de forma contínua e mais de três quartos estão em locais dentro de 20 km de gasodutos existentes que têm acesso imediato a um gasoduto de exportação existente ou instalação de GNL”, diz o relatório.
Gás que poderia ser direcionado com “políticas certas e a implementação no local de queima de medidas de redução das emissões de metano”, completa.Mais: Quatro passos para enfrentar o problema global do metano no O&G
Falta ação da indústria. Menos de 3% da receita acumulada pelas empresas de petróleo e gás em todo o mundo no ano passado seria suficiente para cobrir os US$ 100 bilhões em investimentos em tecnologias necessárias para reduzir as emissões de metano do setor, defende a IEA.
Segundo a agência, as emissões do O&G sozinhas poderiam ser reduzidas em 75% com as tecnologias existentes e de forma relativamente barata.
Uma das medidas de impacto é a interrupção das queimas e descargas não emergenciais.
A organização calcula que cerca de 260 bilhões de metros cúbicos (bcm) de metano são perdidos para a atmosfera a cada ano nessas operações. E três quartos disso poderiam ser retidos e colocados no mercado usando políticas e tecnologias testadas e comprovadas.
"Os cortes de metano estão entre as opções mais baratas para limitar o aquecimento global a curto prazo”, comenta o diretor executivo da IEA, Fatih Birol.
Ele afirma que a explosão do oleoduto Nord Stream no ano passado liberou uma enorme quantidade de metano na atmosfera, mas as operações normais de O&G em todo o mundo liberam a mesma quantidade de metano todos os dias.
Com informações Nayara Machado | Epbr
Imagem de Freepik
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